Resumo | Abstract
A produção de Aby Warburg (1866-1929) tem exercido crescente influência na História da Arte, em especial a partir dos anos 1990, justo quando se configurou grave crise narrativa da disciplina. Isso se deve em grande parte à sua proposta de alteração do parâmetro do esteticismo e da representação em favor de uma ciência da expressão, uma “psico-iconologia”. Contemporâneo de Warburg, Fernando Pessoa (1888-1935) também dedicou sua produção a esta alteração por uma ciência da expressão, uma “psicologia das figuras que só existem nos quadros”, elaborando conceitos poéticos que em muito dialogam com os do historiador alemão. Porém, mais surpreende é o fato de que ambos realizaram tais projetos envolvidos em estudos astrológicos. Especialistas em Warburg e especialistas em Pessoa reconhecem esta dimensão em seus trabalhos, mas costumam minimizá-la como mera temática ou apenas excentricidade. Isto, porém, negligencia um dado histórico decisivo e bem documentado: os envolvimentos que a astrologia teve, desde a Antiguidade, com o problema filosófico da expressão. Assim, este projeto propõe reavaliar a validade dessas fortunas críticas particulares a partir justamente desse encontro dialético – um estudo de caso ainda inédito na História da Arte. Para tanto propomos revisar em contraponto os conceitos-chave que cada qual estabeleceu para suas “ciências”, e até mesmo perpassar os conhecidos dramas de ordem psicológica que ambos atravessaram nesse processo. Uma trajetória de pesquisa que leve dos problemas historiográficos aos abarcamentos antropológicos que ambas as produções exerceram. Afinal, quais seriam as efetivas relevâncias críticas da astrologia rumo a uma História da Arte voltada para a expressão em vez da representação?
The work of Aby Warburg (1866–1929) has exerted increasing influence on Art History, especially since the 1990s, precisely when the discipline faced a serious narrative crisis. This is largely due to his proposal to shift the paradigm from aestheticism and representation toward a science of expression, a “psycho-iconology.” A contemporary of Warburg, Fernando Pessoa (1888–1935) also dedicated his work to this same shift toward a science of expression—a “psychology of figures that exist only within paintings”—developing poetic concepts that strongly resonate with those of the German art historian. What is even more surprising, however, is the fact that both undertook these projects while deeply involved in astrological studies. Although Warburg and Pessoa scholars acknowledge the presence of astrology in their work, they often minimize it as mere thematic material or eccentricity. This approach, however, overlooks a crucial and well-documented historical fact: astrology’s longstanding entanglement with the philosophical problem of expression, dating back to Antiquity. This research project thus proposes a reassessment of these particular critical fortunes through the lens of this dialectical encounter—an as-yet unexplored case study in Art History. The aim is to revisit, in a comparative manner, the key concepts each thinker established for their respective “sciences,” even considering the well-known psychological struggles both endured in the process. This trajectory of research bridges historiographic challenges and the anthropological scope that both bodies of work embraced. Ultimately, what is the critical relevance of astrology for an Art History oriented toward expression rather than representation?
Palavras-chave | Keywords
Aby Warburg | Aby Warburg;
Fernando Pessoa | Fernando Pessoa;
Astrologia | Astrology;
Expressão | Expression;
História da Arte | Art History.